Vampiro A Máscara – Qual Era O Seu Estilo De Jogo?

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Fizemos um post sobre o lançamento da edição comemorativa de 20 anos de Vampiro, A Máscara no Brasil e ficamos devendo de falar mais um pouquinho sobre esse RPG que foi febre na infância de muita gente.

Eu estava remexendo umas caixas e envelopes antigos no armário quando achei anotações e fichas antigas de quando ainda mestrava sessões de Vampiro. Meu primeiro impulso foi de rasgar tudo e jogar fora, abrindo assim um pouco de espaço. Mas carinhosamente guardei tudo de volta… É, eu sou desses, eu sei. Mas relendo algumas daquelas coisas eu percebi como era estranho algumas campanhas que a gente jogava e fiquei pensando em como cada grupo meio que se adaptava a um estilo diferente de narrativa. Digo isso porque eu fui tanto mestre como jogador em um numero considerável de mesas e era sempre diferente. Por isso resolvi fazer um apanhado de estilos diferentes de se jogar vampiro pelas mesas afora. Vejamos se você que também jogou este clássico se identifica com alguma delas:

O Estilo “Vampiro Filosófico”

bradstreet-brujah-bwEu não vou abrir meu livro agora, mas lembro que logo no inicio havia um texto que dizia algo como:

“Este é um jogo de horror pessoal. Vampiro trata sobre a besta interior que ameaça nos dominar e sobrepujar nossa humanidade e etc…”

Realmente, se formos analisar a natureza do jogo é disso que se trata. Esqueça os poderes vampirescos, a ação e o confronto político. A maior luta de um vampiro é para manter a sua Humanidade. Já conheci narradores que adoravam explorar esse lado, criando um cenário mais intimista. Considero um dos melhores métodos de jogo para quem preza a interpretação acima de tudo e viaja longe na criação de seus personagens. É um tipo de jogo que te dá margem para explorar situações em que a moral do jogador confronta a do personagem, gerando bons debates e reflexões.

Por outro lado é um estilo bem individualista. Diferente de outros sistemas como GURPS e D&D, Vampiro a Máscara não estimula grupos muito grandes de jogadores. Sendo uma boa média 3 a 4 pessoas fora o Mestre. Quanto mais jogadores haverem na mesa mais difícil será dar o tempo e a profundidade necessária para um jogo mais “cabeça” e adulto, para se debater essas questões filosóficas e humanistas. Sem contar que a falta de ação pode espantar jogadores não tão acostumados a uma narrativa mais densa.

Jogos de Crossover

O universo do Mundo das Trevas é gigantesco. Um cenário repleto de terror e monstros em cada sombra. Os humanos vivem uma realidade medíocre sem desconfiar do que se esconde na obscuridade: Vampiros, Magos, Lobisomens, Fantasmas, Múmias… Quanto mais você conhece do sistema mais elementos você quer inserir no seu jogo. Mas aquilo que pode ser um plus e um diferencial bem bacana na sua campanha também pode acabar com ela.

Nada é mais assustador para um jogador de Vampiro do que quando um narrador diz algo do tipo:

“Vocês estão caminhando entre as arvores quando de repente ouvem um uivo estrondoso e assustador. É possível ouvir algo atrás de vocês, e é mais de um, e se movem muito rápido. Talvez vocês devessem correr”

Já vi combates lendários entre vampiros e lobisomens, ou tramas que envolvem elementos bem sombrios e sobrenaturais com Magos e Fantasmas. O elemento surpresa e o medo do desconhecido conseguem a atenção total dos jogadores. Fazer crossover entre cenários pode ser bem legal nas mãos de um narrador experiente. Mas por outro lado também pode ser uma grande confusão.

É imprescindível que o Mestre conheça bem os cenários que ele quer misturar. Um dos grandes problemas do antigo Mundo das Trevas era isso, havia um conjunto de regras muito especifico para cada cenário, eram praticamente jogos totalmente diferentes. Claro que sempre era possível adaptar uma coisa ou outra, mas mesmo assim ficava confuso às vezes. Ainda mais quando os encontros iam além da ação, envolvendo elementos narrativos de dois ou mais cenários. Já vi boas campanhas acabarem porque o narrador colocou tanta coisa na mistura que o caldo acabou azedando.

“Vampiros Power Rangers”

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Ou “Vampiros Street Fighter” como eu já ouvi também, é aquele estilo de jogo que preza a ação e a pancadaria acima de tudo. Não há nada que um jogador de Vampiro goste mais do que encher “bolinhas”. Dá certo orgulho você olhar a fica e ver aquele monte de pontinhos pretos mostrando o quanto seu personagem é demais, principalmente nos Atributos e nas Disciplinas. Que Brujah não gosta de ter 5 de Potência na ficha para quebrar todo mundo de porrada, um Assamita com Ofuscação e Rapidez altas para ser como o vento da morte, ou um Ventrue com Presença e Dominação lá em cima para botar ordem no negócio. É inegável que cenas de ação geram histórias épicas entre os jogadores para sempre, seja pelo sucesso ou pelas falhas críticas. Além, é claro, de ser muito divertido. O problema é que Vampiro não possui um sistema de batalha muito bem construído. Primeiro que é muito fácil criar uma ficha desequilibrada. Um personagem pode ter altos níveis nas Habilidades de Briga e Armas Brancas e também em Expressão e Informática. Mas como justificar isso? O cara consegue treinar o suficiente para ser um mestre em kung-fu e ao mesmo tempo é um ator de primeira e hacker profissional??? Muitos narradores experientes fazem uma série de restrições e pedem justificativas para essa ou aquela habilidade. Sem contar que quanto mais combates houver durante a sessão maior será a quantidade de dados rolados. E essa nunca foi à premissa do sistema. Não que você não possa jogar dessa forma, mas às vezes você passa horas, literalmente HORAS para terminar um combate, só fazendo anotações e rolando dados… O que é muito chato.

O Jogo Político

Sou suspeito a dizer por que esse sempre foi meu estilo de jogo predileto. Eu adorava criar tramas profundas de mistério e espionagem envolvendo os Clãs e Seitas. Lembro de ter narrado uma aventura onde os jogadores eram membros de um grupo do Sabá que deveria tomar o controle de uma cidade da Camarilla. Ahhh, que época! A mitologia de Vampiro a Máscara é muito rica e te dá todos os elementos necessários para crias boas tramas políticas.

Jogadores mais experientes podem tomar o papel de anciões, mexendo e influenciando a decisões de outros indivíduos como peças em um tabuleiro de xadrez. Personagens mais jovens podem estar em busca de poder e status enquanto tentam não morrer no meio do fogo cruzado dos mais velhos. As possibilidades são diversas, principalmente para grupos que gostem de explorar a interpretação e a oratória.

Os problemas nesse estilo de jogo são os mesmos do filosófico. A coisa pode ficar monótona às vezes. Uma boa cena de ação aqui e ali é um tempero bacana numa campanha, mas pode ficar meio forçado se aparecer muito fora do contexto. Sem contar que é preciso haver uma química bem bacana entre os jogadores da mesa. É um tipo de jogo bem coletivo e que exige que cada um faça a sua parte, se algum dos personagens não estiver em sincronia com os outros pode acabar em confusão, dentro ou fora do jogo.

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O Estilo Alternativo

Depois de anos jogando um cenário todo mundo acaba enjoando ou querendo tentar algo diferente. Mestres ou jogadores experientes às vezes se arriscam criando seu próprio cenário. Já vi sessões de Vampiro em cenários pós-apocalípticos, na Roma antiga, em um futuro tecnológico… Realmente muita coisa interessante surge daí, mas é necessário dizer que a maioria esmagadora desses cenários alternativos não vai pra frente.

A razão é que exige muita dedicação por parte do criador para abastecer um cenário inteiro com conteúdo e informações. Já vi alguns narradores escreverem quase um livro para uma campanha que não chegou a durar meia dúzia de sessões. Jogar em um cenário alternativo pode ser legal, mas saiba que é muito trabalhoso e requer certa dedicação e organização.

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O Estilo “Live Action”

tumblr_miz03rBUEk1rdq2opo1_500Ahh, o Live! Talvez seja um estilo meio marginalizado, até mesmo entre outros jogadores. Um grupo de pessoas que se veste e age como seus personagens na vida real sempre gera estranheza. Admito que eu só fui a uma sessão de Live uma vez, e achei meio constrangedor. Mas acredito que possa funcionar como uma boa interação social para algumas pessoas.

Durante muito tempo o estilo Live acabou sendo algo meio vago no sistema de Vampiro, a Máscara. Até que foi lançado o complemento “Leis da Noite – Teatro da Mente” que trazia regras e fichas específicas para jogar ao vivo. Eu recomendo para quem tenha curiosidade em saber ou ver como é uma sessão de Live RPG, mas é preciso ter muita atenção a uma série de condutas a serem seguidas para que a brincadeira não extrapole certos limites, causando assim alguns problemas.

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Enfim, a ideia até aqui foi apenas mostrar como um mesmo jogo pode oferecer experiencias bem diferentes. Não existe uma maneira correta de jogar vampiro, existe apenas a maneira divertida! As horas passadas na companhia dos amigos, virando noites a base de Coca-Cola e salgadinhos. Isso é que vale!

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