A Sexualização Da Harley Quinn É Um Problema?

Na semana de pré-lançamento de Esquadrão Suicida algumas empresas tem investido nos produtos da franquia: uma famosa loja de roupas lançou uma coleção inspirada no filme, com peças masculinas e femininas que incluía até a blusa de mangas compridas usadas pelas personagem Harley Quinn (Margot Robbie) no filme. Mas a peça que gerou mais polêmica foi justamente um colecionável da mesma personagem:

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Figure baseada na Harley Quinn do filme Esquadrão Suicida

Muitos fãs criticaram a postura extremamente erotizada da personagem. Aliás, essa é uma crítica que vem sendo feita desde que as primeiras imagens oficiais do visual da Harley no filme foram divulgadas. Muito se falou (e se fala) sobre a erotização da personagem desde a sua criação e, pra entender melhor, vamos voltar lá pro começo, quando a Harley surgiu pelas mãos de Bruce Timm no desenho Batman: Animated Series.

A HARLEY ARLEQUIM

É isso mesmo, se você não sabia, agora sabe: a Harley não é uma personagem original dos quadrinhos. Criada por Bruce Timm em 1992 especialmente para a série animada, a palhacinha era apenas mais um capanga do Coringa – uma especial, já que era loucamente apaixonada por ele e não desistia apesar de todas as vezes em que ele a rejeitava.

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Harley Quinn em “Batman: Animated Series”

O jeito engraçadinho, brincalhão e fofo da Arlequina conquistou muitos fãs e aos poucos ela foi ganhando mais espaço no desenho como a namorada oficial do Coringa – uma namorada num relacionamento abusivo, vale destacar.

Seu visual, nessa época, lembrava muito a roupa dos arlequins, personagens da commedia dell’arte cujo traje era feito de retalhos multicoloridos, geralmente em forma de losango – ligação que mais tarde foi explicada na grafic novel The Batman Adventures: Mad Love, onde aparece que o apelido foi dado à ela pelo próprio Coringa, uma brincadeira com seu nome real: Harleen Quinzel.

Mesmo na fase em que chega aos quadrinhos e ganha seu próprio título, em 1999, ela ainda continua com seu visual palhacinha, apesar de um pouco mais sensualizada, com mais curvas e mostrando mais as formas (apesar de ainda ser um macacão todo coberto). A grande virada visual da Harley começa com seu aparecimento nos jogos da franquia Batman, produzidos pela Rocksteady Studios e pela Warner Bros. Games.

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Batman: Harley Quinn, de 1999

OS JOGOS DA FRANQUIA ARKHAM

O Arkham Asylum sempre foi um lugar marcante das histórias do Batman. Por isso, a produtora resolveu investir numa série de games que começou a ser lançada em 2009 onde a base de operações dos vilões e principalmente do Coringa, arqui-inimigo do Homem-morcego, é a penitenciária de segurança máxima. E Harley tem um papel essencial em todo o desenvolvimento, justamente por ser o braço direito do Sr. C. na empreitada de destruir Gotham.

O jogo traz uma Harley Quinn recém criada pelo Coringa. Sua roupa, que faz menções à um uniforme de enfermagem, remete ao passado de psiquiatra, quando o Coringa era um alvo dos seus estudos para seu próximo livro.

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Harley Quinn em “Batman: Arkham Asylum”

As características mais marcantes da personagem se mantém, como as cores alternadas, o cabelo loiro de maria-chiquinhas, a cara pintada de branco e a máscara. Ela continua uma piadista, mas todo o seu tom agora passou do engraçadinho e inocente ao sexy e provocador.

No jogo seguinte da franquia, Batman: Arkham City, o visual muda novamente: dessa vez Harley aparece com roupas mais justas, retoma as suas cores originais, vermelho e preto, e parece ter um visual mais “rebelde”, com tatuagens aparentes e cabelo pintado nas pontas. A sexualidade, no entanto, só aumenta a cada visual.

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Harley Quinn em “Batman: Arkham City”

A personagem continua fazendo muito sucesso. O quanto disso se deve ao visual extremamente sexualizado? Acredito que bastante. A participação dela nesse título não é muito grande mas, em compensação, ela ganhou sua própria DLC, onde [spoiler] assume a gangue do Coringa após a sua morte, nos acontecimentos finais de Arkham City, sequestrando policiais e até mesmo o próprio Batman.

Nessa DLC vemos uma Harley Quinn mais sombria, até mesmo mais louca. Ela alterna momentos de fofura com momentos de extremo ódio e crueldade: nos parece que a morte do Coringa terminou de enlouquece-la. Andando pelas fases do jogo, achamos itens interessantes que definem um pouco dessa loucura, como as paredes completamente pintadas com rostos do Coringa e até mesmo um berço, onde o boneco ScarFace aparece com a roupinha de bebê idêntica à do Palhaço do crime. Ao redor, no chão, um observador mais atento pode notar vários testes de gravidss espalhados – um deles, próximo ao seu antigo uniforme, é o único que aponta como positivo. Tudo uma contribuição à mais para sua frustração e sua loucura.

Mas voltando ao visual, nessa DLC a base permanece a mesma, porém com novas cores, predominando o preto com detalhes em vermelho; os cabelos ficam pretos, a maquiagem torna-se borrada como que de choro e ela usa um veú negro sobre o rosto: tudo indica que Harley assumiu o manto de viúva de seu Pudinzinho.

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Harley Quinn em “Batman: Arkham City –  Harley Quinn’s Revenge”

Parece o fim da linha dos visuais, mas a franquia não acaba por aqui: mais dois jogos foram lançados. Em Arkham origins retorcedemos no tempo para conhecer como o Arkham Asylum nasceu e assim podemos ver também o nascimento da Harley, ainda na sua forma normal, a Dra Harleen Quinzel, psiquiatra responsável pelo tratamento do Coringa. É um visual clássico de médica, com jaleco e tudo mais. E parece que a produtora resolveu seguir essa linha menos desnuda no jogo seguinte, apresentando uma Harley ainda sensual, mas mais “coberta” em Arkham Kinght, jogo seguinte da série.

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À esquerda a Dra Harleen Quinzel em “Batman: Arkham Origins” e à direita em “Batman:                                                                                       Arkham Knight”

ENTÃO A SITUAÇÃO MELHOROU, CERTO?

Errado. A visibilidade cada vez maior da personagem fez com que ela aparecesse cada vez mais em várias mídias: ganhou seu próprio título nos quadrinhos, além de fazer participações importantes em jogos como Injustice e em outros quadrinhos como Esquadrão Suicida.

As roupas? Cada vez menores cada vez mais provocantes. Até as que cobrem o corpo todo, como algumas skins de jogo, continuam delineando bem os contornos e sexualizando poses.

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Visuais no jogo “Injustice” e na HQ “harley Quinn New 52”

E chegamos finalmente à origem desse post: o filme do Esquadrão Suicida. O visual de Margot Robbie causou um pouco de estranheza desde o começo, por não se apegar às cores clássicas do preto e vermelho, mas sim às novas cores do visual dos Novos 52, azul e vermelho. Uma boa dose de barriga de fora, um short curto, sapato alto e aqui estava a nova versão da nossa maluca preferida.

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Margot Robbie como Harley Quinn: imagem do set de filmagem e primeira imagem oficial divulgada da personagem

Como fã da personagem desde a série animada e, principalmente, como mulher, digo que essa erotização incomoda e muito. E não é apenas uma questão das roupas e visuais: são as atitudes, as poses, as customizações como a figure que mostramos no começo desse artigo. A caracterização de Margot Robbie ficou sensual? Sim, ficou. Com as últimas aparições em diversas mídias a palhacinha acabou se tornando sim uma mulher sexy, bissexual e livre, que não tem medo de mostrar quem é, o corpo que tem, e de fazer as coisas que faz. Voltar ao ponto da fofinha ingênua, à essa altura, parece um pouco improvável, eu diria até impossível. A menininha cresceu e se libertou.

O problema, meus amigos, é o que os produtores de conteúdo estão fazendo com essa liberdade.

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