Seria “Stranger Things” Uma Metáfora Sobre O Câncer?

Sempre que uma história faz um grande sucesso começam a aparecer varias teorias sobre ela, algumas bem fundamentadas e outras nem tanto. Em “Caverna do Dragão” os adolescentes estavam todos mortos e passando pelo purgatório. Em “LOST” todos estavam mortos também (e estavam mesmo!). Em “Hora de Aventura” Finn na realidade está em coma no hospital e a história se passa em sua cabeça. “Matrix” não passa de uma alusão ao mito da caverna de Platão. E “Game of Thrones” é uma revisão fantásticas dos acontecimentos históricos na Inglaterra. Enfim, o que estas afirmações querem dizer é que nenhuma dessas história é apenas aquilo que ela aparenta ser superficialmente. E a bola da vez é “Stranger Things”, a nova série original do Netflix sobre um grupo de garotos que se metem numa aventura bizarra com monstros, dimensões paralelas e atividades paranormais.

Antes de continuar esteja avisado de que este texto CONTEM SPOILERS. Sendo assim, vamos lá!

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SpoilerAlert

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Após devorar a série em uma maratona e ter uma verdadeira (nem tanto) explosão de cabeça fui em busca de discussões e teorias e achei essa particularmente interessante, mesmo que possa não ser totalmente verdadeira. Segundo o que o brasileiro Lauro Kociuba escreveu em seu blog, Stranger Things é claramente uma metáfora a um garotinho que sofre com o câncer.

Will está doente, o câncer é avançado, ele cai inconsciente e é levado para o hospital: o Demogorgon o pegou. A comoção e a luta da mãe dele, Joyce Byers, é clara, nos assustamos com ela, num misto de esperança e desolação, quando há um contato pelo telefone. O paralelo com a tecnologia aqui foi claro para mim, o telefone representando um monitor no hospital, esboçando uma reação do filho. Mas ainda é pouco, o quadro continua se agravando, o tumor se alastrando pelo sistema, a internação na UTI com vários equipamentos e monitores (luzes) sustentando e analisando o filho.

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Seria o Will a peça chave da trama?

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Antes que alguém possa reclamar eu recomendo que leiam o texto de Lauro na sua integra CLICANDO AQUI. Ele deixa claro que a história não é só isso, claro, mas boa parte do que vemos ali poderia ser encarado dessa forma. Não seria a primeira vez que vemos algo assim. Muitos autores colocam essa metáforas dentro de seus roteiros, como uma espécie de sub-plot por trás do conceito original. Mas mesmo se fosse esse o caso onde se encaixaria outros elementos da trama como a menina “Onze” e o núcleo do laboratório? Lauro ainda continua em seu texto:

Onze é um experimento, criada com objetivos distintos, mas que é identificada como um modo de entrar em contato com um outro plano e, eventualmente, com o monstro. Os primeiros testes, em ambiente isolado e controlado, acabam dando errado e o monstro-câncer sai de controle. Mas o laboratório mantém em segredo o experimento, e possível tratamento. Aqui, no laboratório, o simbolismo das “plantas” do lado invertido, que se alastram por todo lado como um… tumor, foi bem claro para mim, fazendo a ficha cair mesmo.

Stranger Things
A comunicação através das luzes.

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Eu fiquei realmente curioso e fui atrás de outras referencias. Primeiro de tudo busquei saber mais sobre Matt e Ross Duffer, os irmãos criadores de Stranger Things. Nascidos em 1984 (mesmo ano em que eu nasci!) eles não possuem uma carreira muito conhecida (nada conhecida, eu diria). Eles dirigiram “Hidden”, suspense lançado em 2015, com Alexander Skarsgård (A Lenda de Tarzan) como protagonista. Este longa não foi lançado no Brasil. Em algumas entrevistas eles disseram ter crescido como ávidos fãs do material de Steven Spilberg e Stephen King, o que explica muita coisa. Fora isso não achei nada mais de relevante. Nenhuma menção de vítima de câncer na família ou depoimento que desse a entender qualquer coisa do gênero. Na verdade os Duffers separam bem cada arco da sua criação, como dito em entrevista ao site Vulture:

“Os adultos estão num filme do Spielberg – são indivíduos imperfeitos, que demoram, mas inevitavelmente percebem que algo estranho está acontecendo ao seu redor. Os adolescentes estão em um filme de terror tipo Halloween ou A Hora do Pesadelo, onde as dificuldades da vida na escola e a perda da inocência se misturam a um mal sobrenatural. E as crianças estão em um romance de Stephen King, tipo Conta Comigo: são crianças nerds que se sentem excluídas, que moram numa cidade pequena e precisam se unir para enfrentar algo aterrorizante”

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Os irmãos Duffers, criadores da história.

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Então toda essa teoria é errada e não passa de uma grande viagem?

Talvez sim. Talvez não. Se você consegue enxergar esse conceito claramente e ele fizer sentido para você então talvez assim o seja. Já no meu caso, mesmo tendo achado interessante a formação das idéias, ainda prefiro acreditar nas outras teorias que afirmam que Stranger Things não passam de uma história criada a partir dos algorítimos de audiência do Netflix. É claro que todas as referencias colocadas ali e a pegada dos filmes oitentistas também contribuíram para o sucesso da série. O que dizer então da atuação dos atores? O núcleo infantil é incrível! Winona Ryder interpretou de uma maneira sublime (alguém dê uma Emmy a esta mulher!). O roteiro é todo muito bem amarrado e tudo corre suave, sem barrigas e episódios arrastados.

Acredito que com a confirmação de uma 2ª temporada outras teorias devem surgir. E por mais que você acredite ou não nelas essa é uma das partes mais gostosas em se consumir uma mídia de entretenimento, poder conversar com os amigos e debater mil ideias sobre aquilo. Nenhuma teoria é “idiota” e sempre vai valer aquela que tiver melhores argumentos. E mesmo que não cheguemos a nenhuma conclusão ao menos vamos nos divertir pensando juntos sobre isso.

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