Luke Cage – O Bom, O Mau, E o Gosto Amargo da Nova Série Marvel no Netflix

Depois de duas sessões de maratona consegui terminar Luke Cage, a mais nova série do Netflix explorando o universo Marvel. Tendo aparecido primeiramente em Jessica Jones, Luke ganhou a sua própria série que futuramente será parte do projeto Defensores junto à Demolidor e Punho de Ferro.

Quando comecei assistir Luke Cage eu sabia exatamente o que viria pela frente. Fosse pelo histórico cânone do personagem, fosse pela identidade visual que o marketing havia deixado claro que seria. Luke Cage é uma série que aborda as dificuldades e a realidade de um bairro negro e pobre dos EUA, com temas como corrupção, tráfico de armas, drogas e, é claro, racismo.

Mas antes de continuarmos, se você ainda não assistiu a série um aviso: esse post CONTÉM SPOILERS da trama! Leia por sua conta em risco.

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Primeiro quero falar da pegada étnica da série, e nesse quesito a Netflix está de parabéns! Acho que nunca vi uma série de TV com um elenco tão representativamente formado por atores negros. E com uma montagem muito natural. Nada para “suprir cotas” ou papel estereotipados. Mas uma legitima interpretação do que é o Harlem, desde a cultura das ruas até o papo entre os clientes da Barbearia do Pop’s. Como não se apaixonar pelas diversas músicas que extraem o sumo do Jazz e do Soul tocadas e cantadas no pequeno palco do Harlem Paradise, a boate do “Boca de Algodão”. O sotaque cantado típico dos moradores da região, de falas rápidas e gírias próprias. Grande mérito da produção nesse ponto, que misturou o clássico estilo do Blaxploitation com uma roupagem moderna de fotografias urbanas amareladas.

E falando em elenco, que grande casting! Começando pelo próprio Mike Colter que já havia me convencido como Luke Cage antes e agora se tornou o retrato vivo do personagem para mim. Mahershala Ali como “Boca de Algodão” deu um segmento incrível à trama e, em minha opinião, foi tirado de cena muito cedo, a história tem uma clara queda sem ele. A linda da Simone Missick representando Misty Knight não só na aparência idêntica, mas também no seu posicionamento de aceitação e rebeldia contra o sistema. Theo Rossi roubou a cena de Shades, sendo o vilão intelectual da série. Rosario Dawson realmente se estabeleceu como a “agente Coulson” do universo Netflix, incrível como ela consegue ser naturalmente um elo entre as séries. Alfre Woodard como a vereadora Mariah Dillard conseguiu me fazer falar mal e rolar no chão de raiva muitas vezes, que grande atriz! E por fim, mas não menos importante, Frankie Fason fazendo um apaixonante Pop.

Elenco reunido na premiere de Luke Cage, em Nova York.

Mas nem tudo são flores. Onde Luke Cage deu aquela derrapada? Em minha opinião foram três pontos bem claros.

Primeiro a quebra do vilão principal. A saída de “Boca de Algodão” para a entrada do Cascavel foi, pelo menos para mim, uma grande perda de ritmo. Não sei até onde foi o trabalho do Erik Laray ou a direção feita em cima dele, mas não me convenceu. Quando você ouvia dizer sobre o Cascavel acabava pensando em alguém como o Rei do Crime, um chefão do tráfico de armas inteligente e manipulador. E no final o cara estava disparando armas enormes no meio da rua ou trocando socos na frente população. Eu entendo que era necessário um desafio físico para o Luke, mas o uso das balas “Judas” já era suficiente. Entre tantos antagonistas interessantes como Cornell, Mariah e o Shades acabamos tendo um vilão final bem fraco.

Outro ponto negativo são as idas e vindas do roteiro. Por vezes a história fica confusa ou mal amarrada. O passado do Luke é um mistério até o meio da temporada, depois temos um episódio flashback que mostra ele na prisão mas não explica como ele chegou lá. No episódio que o Cascavel aparece e termina dizendo “Nós somos irmãos” o próprio Luke parece surpreso, como se ele não soubesse disso, mas depois ele se lembra muito bem do passado entre eles. E mais, Luke já havia aparecido diante das câmeras diversas vezes e ninguém o reconheceu como Carl Lucas? Fora isso existe uma barriga na história que não faz a coisa andar mais ou menos ali depois que Luke procura o médico para extrair a munição que estava dentro dele. Com uma boa enxugada seria fácil reduzir uns bons 3 episódios na soma final.

https://youtu.be/S8ncmEtapqA?list=PLalmCWWs26Ep7vDm9LPZ_vYWwZeSfoxJc

E por fim o que mais me incomodou, por que diabos não rolou uma troca entre as séries? Sei que são regiões diferentes, Demolidor se passa na Cozinha do Inferno. Jessica Jones roda muito pelo Centro e Subúrbio, e Luke Cage ficou restrito ao Harlem. Mesmo assim ainda estamos dentro da cidade de Nova York! Juro para vocês que fiquei esperando a Jessica aparecer pelo menos em um episódio para dar uma mão ao Luke, visto que ele ajudou muito quando ela precisou. E que desperdício não colocar Matt Murdock ou o Foggy Nelson aparecendo na delegacia para comprar o caso do Luke! Sem contar o Justiceiro, que com certeza faria bom proveito daquele monte de armamento pesado. Vocês podem até dizer “calma, vem outra temporada aí”. Tudo bem, gente. Mas o fato é, se você pode fazer, por que não usar?

Agora precisamos falar sobre o final da série. Que como fechamento de roteiro termina muito bem, mas é uma brochada de clímax total.

Lembre-se, qual é o plot da história? Qual é o significado de existir um personagem como Luke Cage? Ele não quer ser um herói de uniforme e capa, ele é um herói negro, que defende não só os negros, mas como as pessoas em geral. Focando seus esforços na parte mais pobre e carente da cidade e levantando ao mesmo tempo bandeiras de lutas sociais.

Luke começa sua história na cadeia e depois vivendo no anonimato, perseguido, culpado por algo que não cometeu e, no fim, termina da maneira que começou. Dentro da jornada do herói Luke Cage não obteve sua redenção, sua recompensa. Por mais que ele tenha deixado sua marca o Harlem continua sendo explorado pelas mesmas pessoas. O tráfico de armas e drogas continua. A barbearia do Pop foi detonada de novo. A Polícia continua ineficiente e desacreditada.

Quando eu digo que como roteiro acabou bem é porque temos um novo quadro, com Mariah e Shade mandando no pedaço, a introdução de armas anti-meta humanos e as pessoas cada vez mais cientes de super humanos andando entre elas. A temporada termina com um bom quadro para ser trabalhado. Mas é impossível não dizer que ficou um gosto amargo na boca.

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Que venham logo os Defensores no Netflix

E também não digo que precisaria ter um final feliz não. O Luke ainda poderia terminar preso. Mas eu esperava ver as pessoas se manifestando nas ruas. Esperava um monumento urbano em homenagem ao cara. Gostaria que a Misty tivesse entregado o distintivo e abrisse sua própria agencia de investigação. Não quero dar um de vitimista aqui, até porque a série vai contra tudo isso e demonstra a força da cultura negra, mas achei o peso em cima de Luke o maior de todos até agora. Pelo amor de Deus, Jessica Jones quebrou o pescoço de uma pessoa no meio da rua e saiu numa boa. Nenhuma força tarefa foi montada contra o Demolidor. Até o Justiceiro está tocando a vida dele. E o Cage vai preso? De novo? E tudo fica por assim mesmo?

Sei lá, ficou realmente faltando algo.

No geral, meus amigos, eu adorei a serie! Luke Cage não só mostra maturidade de roteiro como cativa o publico de diversas etnias, como tem de ser. Afinal, estamos falando de um super herói, e atos de heroísmo devem ser feitos igualitariamente, certo? A produção é de muito bom gosto e o elenco o melhor de todos das séries Marvel no Netflix até agora. Realmente não vejo a hora de desses caras estarem juntos. Que venham logo os Defensores!

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