“Deus: Você não pode consertar tudo, Joan.
Joan: Ela é minha amiga. Eu quero saber o que vai acontecer com ela!
“Deus: Eu sei que você quer. Mas as vezes é suficiente plantar uma semente, afastar-se e deixar a flor germinar naturalmente…”
Joan of Arcadia, série lançada em 2003 e com apenas 45 episódios divididos em duas temporadas, traz a história da jovem gafanhoto Joan Girardi (Amber Tamblyn) e sua família, recém chegados à cidade de Arcadia, graças a seu pai, Will Girardi (Joe Mantegna), que com seu caráter íntegro e inabalável ganha o posto de chefe de polícia da cidade.
Na trama, Joan conversa com Deus. E ele responde! Na verdade, ele aparece diariamente para ela, sempre com um avatar diferente. Ou ele é um punk gótico agindo de maneira bem filosófica, um adolescente – gatinho aos olhos de Joan – ou ainda uma criança inocente. Na soma dos avatares, vemos Deus naquilo que se pode chamar um verdadeiro panteão, com suas peculiaridades, sempre pronto a instigar um pensamento novo em Joan.
Durante a série, temos uma série de dúvidas sobre a realidade. Será que Joan está realmente conversando com Deus, e recebendo missões, ou é tudo parte de uma loucura provocada pelos acontecimentos na família, em especial o acidente sofrido por seu irmão, Kevin Girardi (Jason Ritter), que o deixa paraplégico. Para nós telespectadores, alguns episódios dão margem à loucura, vendo o âncora do jornal televisivo, ditando uma missão diretamente da TV para sua mais nova Joana D’arc.
Sim, o nome de Joan é derivado diretamente de Joana D’Arc, a mártir francesa canonizada pelo Vaticano e que foi uma chefe militar na famosa Guerra dos Cem Anos e que desde criança ouvia vozes vindas do céu que lhe diziam para salvar a França e coroar o rei. A homenagem fica mais claro com o nome da cidade e o título da série (Joana da “Arc”ádia, em uma tradução literal) e a lógica ligação de Joan com Deus. E mais uma vez, a existência do vínculo de Joana D’Arc dá a deixa para pensar se há ou não uma loucura por parte de Joan Girardi.
Em contrapartida à excentricidade de Joan, temos o irmão mais novo, Luke Girardi (Michael Welch) que faz as vezes do nerd científico. Suas deduções lógicas por muitas vezes irritam Joan, que vez ou outra o procura para auxiliar nas ordens divinas recebidas (sempre estranhas à todos, inclusive Luke).
Podemos ver ainda um contrapeso na série, não só com Joan partindo pro lado espiritual e Luke pro lado científico, mas também com os pais, Will Girardi e Helen Girardi (Mary Steenburguen). Enquanto Will se mantém cético quanto à existência de um Deus (que o enraivece ao pensar no dano sofrido pelo filho Kevin), Helen sente-se acolhida pela igreja da cidade, questionando e começando a aceitar a ideia de um ser superior coordenando todo o universo. Helen, que inicia na cidade como secretária da escola de Arcadia, aos poucos vai ganhando mais peso na série e, sem querer, auxiliando Joan com as missões de Deus e trazendo mais vida à família que sofre com as dificuldades de um novo lar e a nova deficiência física de Kevin. Kevin, por sua vez, sofre mais do que a simples perda dos movimentos inferiores. De garoto popular e referência aos irmãos mais novos, passa a ser alguém deprimido e em busca de uma nova conquista, além do esforço de demonstrar a todos que ele ainda está vivo e pode crescer sem ter que viver às custas dos pais.
De elenco de apoio, temos a quase anarquista Grace Polk (Becky Wahlstrom). Filha de Judeus (mais especificamente do rabino da cidade), Grace acaba se tornando a melhor amiga de Joan e se torna parte do palco principal, seja ajudando Joan nas missões mirabolantes ou tentando entender as loucuras em que Joan se encaixa, incluindo as aulas de Química Avançada, onde encontra com o cabeça de vento Adam Rove (Chris Marquette). Adam é visto por muitos como um desocupado, principalmente aos olhos do diretor Gavin Price (Patrick Fabian), que parece desconhecer o gênio artístico e todo o sofrimento que Adam passou.
Ao longo da série, vemos transições incríveis de personalidades, além do surgimento de novos personagens e conflitos entre o bem e o mal. Deus (retratado por 57 atores diferentes ao longo da série, mas retratado muitas vezes por Kris Lemche) consegue cativar e ao mesmo tempo ser odiado por seus momentos de “Mestre dos Magos” e suas infinitas metáforas.
Spoilers não são bem vindos nunca. Mas, a verdade é que não há spoilers sobre o final da série. Joan of Arcadia parou na segunda temporada sem ter continuidade. O episódio final parecia dar indícios de uma jornada sensacional, mas que foi descontinuada para o desespero dos fãs que fizeram campanhas para a restauração da série, sem sucesso. Apesar disso, os episódios lançados são cheios de metáforas para a vida e fazem de Joan of Arcadia, apesar de protagonizado por uma adolescente, um drama para toda a família.
Publicitário, carioca, nerd, cinéfilo, gamer, podcaster e amante da cultura pop. Adora produzir conteúdo de entretenimento e acha que dormir é perda de tempo.
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