Imersão nos Games – As Histórias Estão Mais Fracas Ou Os Jogadores Menos Exigentes?

As discussões e debates mais nerds possíveis sempre nascem de um bate papo despretensioso, não é mesmo? Esses dias eu estava conversando com um amigo sobre o poder da narrativa em alguns games e chegamos à seguinte indagação: “O fator de imersão nos gamers está acabando?”

Pra deixar bem definido, imersão aqui é a capacidade do jogador “entrar” dentro do jogo. De o cara comprar aquela história e começar a se importar e agir in game como o personagem realmente o faria. Esse fator de entrega está cada vez mais raro entre os jogadores atuais. Mas qual seria a causa disso? Da nova geração de gamers ou dos novos jogos que cada vez menos oferecem esse tipo de experiência?

Vou usar um exemplo prático. Nesse exato presente estou jogando Max Payne 3 novamente. Resumindo bem rapidinho, o jogo conta a história de um ex-policial americano que após matar o filho de um chefão das drogas resolve deixar o país. Max vem para o Brasil (veja só você!) trabalhar como segurança particular e acaba envolvido numa trama de crimes, seqüestros, tráfico de pessoas e corrupção política.

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O jogo é uma ação em 3ª pessoa e recebeu algumas críticas no seu lançamento, principalmente no que se refere a como o cenário brasileiro foi retratado. Não se pode negar que realmente existem algumas coisas meio embaraçosas. Como a dublagem feita por gringos falando português ou pelas adaptações de alguns cenários, por exemplo, o Rio Tietê que mais parece o Rio Amazonas e a fase da Favela em São Paulo que tem a cara do Rio de Janeiro!

Mas até aí tudo bem se você comprar a idéia. A Franquia Max Payne nunca foi lá um grande clássico do mundo dos games, mas tem uma legião sincera de fãs. O background do personagem tem certa profundidade, com a morte trágica da família e todo o seu problema com drogas e álcool. Sem contar o climão noir e a narrativa canastrona do próprio Max, que dá uma quebra interessante durante os momentos de ação frenética.

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Tudo isso são coisas que ajudam você a entrar na história. Um personagem bem construído em um cenário que, mesmo não sendo perfeito, traz algum tipo de proximidade. E uma história policial que poderia muito bem ter sido escrita pelo José Padilha, com um gameplay repleto de elementos cinematográficos. Não é apenas um “jogo de tiro em 3ª pessoa” com muita ação e cenas em slow motion. Mas isso significa que se o cara só quiser sentar no sofá e não ligar pra história nenhuma e apenas quiser meter bala em um monte de inimigos ele está jogando errado???

A resposta é: não, claro que não!

A experiência de jogo nesse caso está totalmente relacionada às motivações do jogador. O ponto onde eu quero chegar é se o cara ignora propositadamente bons elementos de imersão ou são os jogos que cada vez menos conseguem passar essa percepção. Outro bom exemplo e a franquia God of War. Sem sombra de dúvidas Kratos foi um dos personagens mais populares da ultima geração de games. Lembro bem quando o jogo foi lançado em 2005 e rapidamente se transformou em uma febre entre a galera. Tudo era muito incrível! Os gráficos bonitos, a jogabilidade hack n’ slash bem feita e todo o cenário mitológico grego que tem um apelo narrativo muito forte.

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Mas então veio o segundo jogo, o terceiro e por assim em diante e uma coisa começou a ficar bem clara: God of War é sempre o mais do mesmo.

Percebam que esse é o tipo de afirmação que deixam os fãs da franquia enlouquecidos! Com uma fúria digna de um guerreiro espartano eles vão defender cada jogo com argumentos diferentes. Melhoria nos gráficos, ajuste da jogabilidade, novas armas, novos monstros, novos movimentos… Mas a verdade é que sempre será Kratos rodopiando ferozmente pela tela até não restar ninguém de pé, amigo ou inimigo. A minha percepção sobre God of War é que quem já jogou um, jogou todos.

Vejam bem, nada disso significa que qualquer um dos jogos da franquia seja ruim. Pelo contrário, adoro God of War! Se houvesse o termo “massa veio” no dicionário a foto do Kratos deveria estar ao lado! É maneiríssimo ver o cara quebrando tudo, arrancando a cabeça de monstros na unha e matando deuses das mais diversas maneiras. Só que temos de admitir que o jogo se resuma basicamente a isso e não tem profundidade nenhuma. Aliás, me espanta quando eu vejo alguns jogadores realmente acharem o Kratos um personagem com algum conteúdo. E até mesmo se compadecerem da história do personagem, sem perceberem que não se trata de um total clichê da tragédia grega.

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Kratos pronto para detonar tudo… De novo!

O ponto onde quero chegar é que talvez não possamos afirmar com certeza se a “culpa” (vamos chamar assim) dessa falta de profundidade é dos jogos ou dos jogadores. Na verdade, eu acho que cada público tem aquilo que merece e aquilo que quer. Esses dias eu vi alguns amigos comentando muito bem sobre Titan Fall. Ao perguntar sobre o que se tratava o game, qual a história e tal a resposta foi basicamente unânime: “Não importa cara! É só um multiplayer fodão!”

Por outro lado eu acredito que é possível você ter um bom jogo cheio de coisas “massa véio” e ao mesmo tempo uma narrativa imersiva. Foi assim com o novo Tomb Raider e, por que não, Uncharted. Que são jogos que usam uma linguagem cinematográfica muito forte, tanto nas cutsecenes como no próprio gameplay, tornado o game atrativo até mesmo para a sua namorada que senta do seu lado e fica vendo você jogar! HAHAHA E o que falar de The Last of Us?

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The Last of Us virou sinônimo de narrativa e imersão da última geração!

Lembrando que o fator imersão também pode estar subjetivo às preferências pessoais do jogador extra game. Por exemplo, eu gosto de animes e adoro a forma como a Bandai produz seus jogos do Dragon Ball e Naruto. São jogos que não tem uma jogabilidade muito precisa e não são muito balanceados, mas que recontam com fidelidade a história do anime através da sua experiência de jogo.

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Às vezes é possível achar uma narrativa interessante onde menos se espera. Quem imaginaria que Mortal Kombat traria um modo história tão divertido? Ou mesmo Injustice, que é um deleite para os fãs de quadrinhos. Lembrando que ambos são jogos de luta e que historicamente nunca prezaram muito esse tipo de característica. Sem falar de jogos totalmente despretensiosos, mas que podem te levar a um nível de imersão muito grande, como é o caso de Spec Ops: The Line.

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Spec Ops: The Line é assim, chega sem você dar nada por ele e BOOM! Explosão de cabeças… Literalmente!

Enfim, a conclusão é que talvez a imersão em um game dependa muito mais da disposição de entrega do jogador, ou não. Realmente alguns jogos, por melhores que sejam não oferecem uma história muito profunda ou personagens interessantes. Por outro lado alguns games te prendem com um roteiro tão forte que você ignora uma jogabilidade quebrada e outros bugs. No geral é difícil julgar a experiência de jogo das outras pessoas, mas devemos ser mais críticos nesse sentido. Reconhecendo bons trabalhos para que tenhamos mais produtos de qualidade que nos transportem para seus mundinhos de diversão.

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