Final Fantasy VII – O Dia Que A Square Perdeu A Luta E Os Fãs Ganharam!

Estamos em plena E3 2015, a convenção do mercado de games mais esperada do ano e, como acontece em toda edição, tem aquela notícia de explodir cabeças: a Square anunciou ontem que FINALMENTE fará um remake de seu maior clássico: Final Fantasy VII. Segundo o representante da Sony no evento, o remake de FFVII será lançado primeiro para PlayStation 4, mas o lançamento em outras plataformas é uma possibilidade. Nenhuma informação sobre data de lançamento foi divulgada ainda. Confira o trailer:

Bom, quantas vezes nós gamers não ouvimos esse pedido antes?

“Square, faz um remake de Final Fantasy VII!”
“Final Fantasy morreu, bom era o VII!”
“Queremos mais Final Fantasy VII”

Pois é, finalmente a Square Enix resolveu ouvir o clamor de seus fãs e se render a eles. Mas a luta foi difícil. Vamos relembrar qual era a posição da desenvolvedora há alguns anos atrás.

“Não havia tempo para fazer um novo FFVII”

Em 2010, quando os primeiros boatos de um possível remake começaram a aparecer, a Square tratou logo de desmentir. Em entrevista ao site Tech Digest, Yoshinori Kitase, produtor de Final Fantasy XIII afirma seu desejo de produzir uma releitura do clássico RPG, mas argumenta que é inviável pelo tempo necessário para essa produção. Segundo ele, “se fosse possível que tivéssemos acesso a todas as instalações certas e o meio certo para podermos produzir e preparar um remake de ‘Final Fantasy VII’ em um ano, nós gostaríamos muito de tentar!”

Yoshinori ainda faz uma comparação estimativa de quanto tempo seria necessário para que o trabalho fosse concluído: “Mas até mesmo ‘Final Fantasy XIII’ levou três anos e meio para ser criado. Se fosse para recriar ‘Final Fantasy VII’ com o mesmo nível de detalhe gráfico como você vê em ‘Final Fantasy XIII’, imaginamos que levaria pelo menos três ou quatro vezes mais tempo que os três anos e meio de ‘FFXIII’ para poder fazer o remake! Então, é totalmente irreal! Mas se for mínima a chance dessa situação aparecer, então sim, nós faríamos!”

É interessante ter isso em mente porque não foi anunciada uma data de lançamento para o remake. Além disso, FF XV está às vésperas de lançamento e a Square teria de deixar um tempo de respiro entre um lançamento e outro. A pergunta que fica no ar é se eles já teriam começado a produzir esse remake ou tudo vai depender do hype causado pelos fãs? De certo é que não vejamos esse jogo pelo menos nos próximos 3 anos.

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Print do UOL Notícias (2010)

“FFVII precisava ser superado”

Que os japoneses tem todo aquele lance de superação em seus produtos nós já sabemos e isso ficou bem claro em 2012 quando a Square afirmou que um remake de FFVII só seria possível se o jogo original fosse superado. Quem disse isso foi o presidente da Square Enix na época, Yoichi Wada, durante a conferência anual com investidores: “Nós faremos um remake de “Final Fantasy VII” só após criarmos um jogo da série que exceda a sua qualidade”.

Agora eu pergunto a vocês e principalmente aos fãs: isso aconteceu???

Tivemos bons jogos da Franquia depois do VII. Eu mesmo joguei muito o FFVIII e tenho saudades dos personagens até hoje. Não me adaptei muito ao FFIX e FFX, mas adorei o FFXII e seu sistema de batalha dinâmico. Depois disso só fui experimentar em FFXIII e posso dizer que não gostei nem um pouco por diversos motivos. Uma das características da franquia sempre foi essa alternância de sistemas e histórias, por isso não sei dizer se algum dos sucessores de FFVII chegou a superá-lo. Todo o sucesso do jogo original se deve a uma convergência de diversos fatores: personagens carismáticos, enredo bem trabalhado e a entrada da série na geração 3D são alguns deles. Talvez o conceito de superação aguardado pela Square não dependesse apenas do jogo em si, mas do alinhamento dos planetas para que outra combinação de fatores tornasse um novo Final Fantasy tão memorável quanto aquele de Cloud e sua trupe.

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Print do Omelete (2012)

“Um remake seria caro demais”

Em 2014 uma nova onda de rumores sobre a produção de um remake foi rebatida pela Square com o argumento de quê seria caro demais produzir um game desses. A explicação dada por Yoshinori Kitase foi que o orçamento necessário seria três ou quatro vezes maior que aquele para os títulos mais recentes, uma vez que o jogo de 1997 tinha cenários maiores e mais complexos que os dos jogos atuais.

Ok, vamos fazer uma conta rápida então. Não sou muito bom de matemática, mas descobri que FFVII teve um orçamento de US$ 64 milhões, com valor atualizado de US$ 45 milhões em relação a época. Além desse valor, foram gastos US$ 100 milhões só em marketing (hoje em dia, algo em torno de US$ 142 milhões).

O que tivemos depois disso? Pegando como exemplo Final Fantasy XIII, que levou 5 anos para ser produzido e teve um orçamento entre US$ 50 e US$ 60 milhões (não consegui a cifra exata). Não encontrei também nenhum dado oficial sobre o orçamento de Final Fantasy XV, mas algumas estimativas chegam na casa dos US$ 68 milhões. E só pra fechar, o Tomb Raider de 2013 produzido pela Crystal Dynamics mas publicado pela Square teve um custo de quase US$ 100 milhões!

Ou seja, dinheiro tem! Não quero entrar em termos e conceitos econômicos aqui, mas investir em um novo jogo da franquia que não se sabe se vai agradar – como tem sido os últimos Final Fantasy’s – parece mais arriscado do que apostar em algo clamado pelo consumidor há tanto tempo. A teimosia dos japoneses é bem conhecida, está aí a Nintendo que não nos deixa mentir, com suas decisões de mercado duvidosas. Mas a verdade é que essa desculpa envolvendo custos nunca convenceu ninguém.

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Print do Outer Space (2014)

“Então por que agora?”

Enfim, as coisas mudam meus amigos. Apesar de Yochi Wada continuar como CEO da empresa a Square parece que começou a entender como serão as coisas daqui pra frente. Não duvido que a própria Sony tenha feito força para que essa decisão tenha sido tomada. Tenho visto muitas críticas em relação ao fato de quê não estão saindo novos games específicos da nova geração para PS4, e sim uma galeria de remakes. Sinceramente, acho uma grande esperteza da Sony, no bom sentido. Além de apostar no que é certo ela pega uma fatia de jogadores que podem não ter experimentado esses jogos na geração passada, inclusive aqueles que só tiveram um X-Box 360. Não foi acertado nada de exclusividade até agora, mas não seria de se espantar se a preferência pelo game fosse nos consoles da Sony – dada a longa tradição entre as empresas e a política exclusivista do Playstation.

No mundo dos negócios não há lugar para o orgulho. Acho também que a Square tinha um pouco de medo de ser acusada de recorrer a um remake devido à falta de competência para criar algo de novo. É compreensível, mas desnecessário. Nesse caso em específico você, como empresa, está apenas dando aquilo que o seu público consumidor quer. Se não fosse assim por que Mario vende litros até hoje? E Zelda? A fanbase de Final Fantasy é muito grande e o mercado de J-RPGs começou aquecido nessa geração. Podemos estar vendo um renascimento de jogos nesse estilo e FFVII remake talvez torne-se um marco novamente na história dos games.

“Mas e se der errado?”

Mas há sempre uma preocupação também, que é a armadilha da nostalgia.  Quantos desses fãs frenéticos com o anúncio do remake jogaram FFVII original recentemente, pelo menos nos ultimo 3 ou 5 anos? Ou melhor, quantos desses fãs continuam acompanhando a evolução dos jogos a cada geração?

A verdade é que esse remake pode ser um grande tiro no pé se a expectativa acabar se tornando maior que a experiência de jogo. Possivelmente cada fã tem o seu conceito de como seria o remake ideal dentro da sua cabeça e este certamente não é o mesmo que a Square planeja instituir no projeto. Talvez aquele personagem que você tanto gostava no original exerça um papel totalmente diferente agora. Não sabemos como será o sistema de combate e nem como serão apresentadas as tão queridas Matérias. Haverá mudanças na história? O que será mantido? São muitas perguntas.

Mas a principal indagação é: de quem para quem esse jogo será feito? Que os fãs antigos comprariam o remake é quase certo, mas qual o público alvo da desenvolvedora? Observem que vivemos em uma geração de gamers bem diferentes daquela que existia lá em 1997. É possível que vários elementos modernos acabem entrando nessa nova versão, o que pode desagradar muita gente. E por mais que seja um sucesso eu ainda vejo uma fatia considerável de fãs que talvez fiquem um pouco decepcionados.

Final-Fantasy-VII-Remake-logo

Enfim, de qualquer maneira eu gostaria de parabenizar você que sempre lutou e quis que Final Fantasy VII estivesse de volta ao mercado! Como jogador e fã de games eu entendo muito todo esse hype criado pela notícia nas redes sociais. E acho muito legal e gostoso ver isso, acho que revive um espírito bacana e aquece o mercado. Talvez fiquemos um tempo sem ouvir falar sobre esse remake. Como disse antes, os esforços da Square ainda estarão voltados para FFXV, por enquanto. Esse anúncio foi algo mais como um “ok, nós ouvimos, vocês ganharam. Agora sentem aí e esperem!”.

Vamos acompanhar o que vem por aí.

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